Ciganos batedores de carteira na Itália

Com o que você associa a palavra “ciganos”? Se pensou em música, dança e roupas coloridas, não há nada de errado. Entretanto, a realidade desses povos espalhados ao redor do mundo não é… digamos tão colorida assim.

Ao que tudo indica, os ciganos provêm da Índia. No final do século 14, os primeiros grupos chegaram à Europa e continuaram andando para lá e para cá em todo o continente. Seu nomadismo e diversos costumes sempre causaram incômodo às comunidades locais, levando os nazistas a incluí-los na lista negra. Provavelmente, meio milhão deles foram mortos nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

A perseguição não parou por aí, como demonstram recentes ataques a assentamentos de ciganos em determinadas regiões da Itália, França e Irlanda do Norte. Mas será que isso tem ocorrido só por causa dos costumes dessas famílias?

Itália

Proavelmente, entre 60 mil e 90 mil deles vivem atualmente na Itália - pelo menos 3 mil nômades na capital Roma.

Em 2005, assim que cheguei para viver na cidade, fui logo avisado: “Muito cuidado com os ciganos!” Segundo os locais, seria fácil reconhecê-los, principalmente as mulheres com saias longas, chinelos ou sandálias e cabelos compridos.

Uma das suas características culturais é andar em bandos. Muitas vezes, identificá-los é uma questão de auto-segurança, pois estar próximo desses grupos pode significar ficar sem sua carteira ou bolsa – principalmente dentro e ao redor dos ônibus e metrôs.

Tudo bem que 97% das crianças ciganas não frequentam a escola, que a maioria dos adultos é analfabeta, que a expectativa de vida deles é por volta dos 50 anos e que as condições precárias dos assentamentos e barracas se somem a outros inúmeros fatores que os empurram para as margens da sociedade. Mas o que você vai pensar quando for a Roma e for roubado por um deles?

Indignação

Ao longo dos meses em que vivi na capital italiana, me acostumei a escutar relatos de turistas inconformados por terem perdido dinheiro, passaporte e outras coisas durante os passeios na cidade. A indignação só aumentava porque tanto cidadãos quanto Estado estão cansados de saber do problema, mas até hoje não encontraram nenhuma solução. Houve, porém, uma tarde em que minha revolta chegou ao ápice.

Assim que subi no ônibus em direção ao trabalho, vi que duas mulheres e uma moça, todas ciganas, estavam em pé, com aquele olhar de caçadoras de níqueis. Fiquei também em pé, próximo da porta dos fundos, no meio do trio e de olho nas três.

Eu achava que, a qualquer momento, pegaria uma delas no flagra tentando abrir a bolsa ou mochila de alguém distraído, mas o que aconteceu foi ainda pior.

A mais velha do grupo tinha um bebê no colo. Apoiada no braço esquerdo da mulher e coberta com um pano, a criança foi ficando cada vez mais próxima de mim conforme a mulher dava pequenos passos na minha direção.

De repente, senti minha carteira se mexer, roçando minha coxa. Instintivamente, coloquei a mão no bolso e me surpreendi com outra mão tentando entrar ali. Na verdade, a cigana estava com o bebê amarrado! O braço dela, coberto pelo pano, estava livre, leve e solto para ela meter a mão na carteira ou dentro da bolsa de quem ela quisesse.

Indignado, fiz um escândalo como um típico italiano, fazendo com que o motorista parasse o ônibus e as três descessem. Depois de chegar à rua, a figuraça ainda cuspiu em minha direção. Não acertou! :-P

Algumas semanas depois, vivi uma situação semelhante em um ônibus lotado, esprimido entre desconhecidos e flagrando um homem também tentando enfiar a mão no bolso dianteiro da minha calça jeans. Novo escândalo, nova parada de ônibus, novo ladrão descendo inconformado.

Portanto, quando for a Roma, Barcelona, Paris e outras cidades europeias onde ouvir “Cuidado com os ciganos!”, fique realmente muito atento.

Escravidão na Itália

Foi no início do verão de 2000 que tudo aconteceu. Morando na Alemanha e ansiosos para finalmente conhecermos a Itália, minha irmã e eu procuramos pela internet alguma oportunidade de viver e trabalhar em meio à “buona gente”.

Com muita sorte, encontramos um anúncio de Fabio, um cara de uns 30 anos que estava recrutando pessoas para trabalharem quatro horas diárias em seu sítio em troca de cama e comida.

Segundo o anúncio e os e-mails que trocamos com o simpático italiano, tudo seria perfeito. A propriedade ficava numa região montanhosa próxima de Urbino, uma bela cidade universitária no leste do país. De acordo com o Fabio, ele e os pais produziam uma série de alimentos “biológicos” e viviam em harmonia com a bela natureza na sua propriedade.

Além do mais, combinamos que, por cada hora de trabalho extra, receberíamos 8 dólares. Assim, decidimos passar três agradáveis meses ali e ainda juntar uma grana para a próxima etapa do nosso ano de mochilão.

Bem-vindos?

Quando chegamos em Urbino, telefonei conforme tínhamos combinado e ficamos esperando Fabio ir nos buscar. Quarenta minutos depois, um carro foi estacionado na nossa frente. “Será que é ele?”, nos perguntamos. A porta do motorista se abriu e um sujeito saiu. Sem nos cumprimentar, abriu o porta-malas, olhou para nós e disse: “Andiamo!” Parecia que estávamos no início de um filme de terror como O Albergue ou O Motel.

Aquele sujeito vesgo e de poucas palavras era mesmo Fabio. Depois de percorrermos 20 km em silêncio, chegamos ao sobrado em cujo segundo andar ele vivia com os pais. Pareciam o gigante a bruxa da floresta: um senhor troncudo de mãos grossas e com um dedo a menos, e uma senhora com olhar maligno que tentava dissimular se fazendo de boazinha. Mas não éramos bobos.

O lar

Nosso quarto tinha uma cama de casal que afundava no meio. Toda a comida era regulada. Era tão grave que minha irmã decidiu fazer dieta para ceder um pouco de suas porções para eu não passar (tanta) fome. E tinha algo ainda mais grave: os três fumavam. Faziam isso inclusive na cozinha, enquanto preparavam as refeições e logo depois de comerem, enquanto assistiam a futebol na pequena televisão ao lado da mesa. Me lembro como se fosse ontem da cena da bruxa com o cigarro na boca enquanto preparava a salada de alface.

A paisagem natural da região era, de fato, muito bonita. O sítio, entretanto, não. Da casa às plantações, tudo era muito mal cuidado, dando a sensação de ter várias partes abandonadas. Pra você ter uma ideia, havia quatro ou cinco carros apodrecendo ao ar livre - provavelmente porque eles não estavam dispostos a pagar algum imposto ou a levá-los até um ferro-velho na cidade.

Quanto ao trabalho, não nos contavam o que faríamos no dia seguinte. Na primeira noite, perguntei durante o jantar. “Agora, comemos; depois falamos de trabalho”, foi a resposta ríspida do pai. Mas tudo que ele disse "depois" foi a hora em que deveríamos estar em pé de manhã. Após isso, seguiram os três com a atenção voltada ao jogo de futebol na TV.

Praticamente, ninguém conversava conosco. Até quando estávamos nas plantações de tomates ou de uvas, por exemplo, o gigante da floresta se limitava a movimentar as mãos ou ferramentas e murmurar coisas como “like this” ou “after”, como se fôssemos de planetas diferentes. Detalhe: eu já falava italiano. Apesar disso, naquele contexto, não seria difícil para um brasileiro entender o que “così” e “dopo” ou “poi” significam.

Não nos informavam sobre nossas horas de trabalho nem nos davam oportunidade de planejar nossos dias. Nos usavam duas ou três horas de manhã; depois o mesmo tanto à tarde. Nos intervalos, não podíamos usar internet nem telefone. A cidade era longe demais para irmos até lá a pé. E, claro, só tínhamos três refeições diárias – sempre com eles, a TV ligada e os cigarros acesos.

Fuga

Encurtando a história, no final do segundo dia, um casal estadunidense que vivia no primeiro andar do sobrado se aproximou de nós. Eles já estavam acostumados com jovens estrangeiros decepcionados como nós e se prontificaram a nos ajudar a, literalmente, fugir dali.

Ligaram para um amigo em outra fazenda e pediram que ele nos acolhesse. Quando? O mais rápido possível. De repente, bateram à porta. Fabio e o pai tinham escutado nossas conversas e desceram indignados para evitar que fôssemos embora dali.

A discussão foi feia, mas, na manhã seguinte, saímos sem falar com nenhum deles e Bruce, o estadunidense solícito, nos levou até a cidade, de onde seguimos em caronas até Pescara, onde vivemos “felizes para sempre” por duas semanas na casa do Rafaelle – este, sim, um “cara 10” com esposa, filho, casa, hábitos e amigos adoráveis!

Dicas para suportar o frio do Hemisfério Norte

Para quem está acostumado à temperatura média anual de 19°C em cidades como São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, encarar o frio do Hemisfério Norte pela primeira vez é barra pesada. Ainda mais sabendo que, em muitos países, o frio não é apenas intenso, como também dura muitos meses.

Provavelmente, depois de sobreviver a um inverno inteiro em lugares como Escandinávia, Europa Central, Rússia ou Canadá, você irá entender por que as pessoas desses lugares idolatram o sol e estão sempre falando sobre o tempo.

Se você planeja encarar o inverno de alguma dessas regiões, tenha sempre três coisas em mente:

1) Mantenha-se agasalhado

Nós humanos somos seres homeotérmicos e funcionamos à temperatura de 37°C. Quando a temperatura externa é muito mais baixa que isso, uma região do nosso cérebro chamada hipotálamo ordena a constrição dos vasos sanguíneos e outros mecanismos para nos manter aquecidos. Com isso, a pele fica pálida, fria e ressecada.

O hipotálamo encara a proteção do coração e outros órgãos vitais como prioridade, “desprezando” extremidades como dedos, orelhas e nariz. Dependendo do tempo de exposição ao frio, os vasos sanguíneos dessas “batem em retirada”, deixando-as sem combustível e sem calor. É por isso que pequenos movimentos como segurar uma caneta ou amarrar o cadarço podem se tornar missões impossíveis num dia de muito frio.

Apesar de o princípio ser o mesmo entre os humanos, algumas pessoas suportam temperaturas baixas fazendo menos esforço. Principalmente se elas tiverem sido expostas ao frio repetidamente.

Se você vem de um país tropical como o Brasil, esse não deve ser o seu caso. Portanto, não adianta querer dar uma de bonzão e mostrar que “não está sentindo frio”. Fazendo isso, você ficará mais vulnerável e provavelmente acabará sendo vítima fácil de resfriados e gripes.

2) Alimente-se bem

Durante a digestão, nosso corpo produz calor e libera substâncias que serão distribuídas entre as células, aumentando a capacidade dessas de produzirem novamente calor. Pense nos músculos e de onde vem todo o material que os forma.

Além disso, grande parte do que o organismo não precisar de imediato ficará acumulada entre os músculos e a pele, formando um isolante térmico. Pensando assim, ganhar uns quilinhos durante um inverno rigoroso não é tão mau assim, não é mesmo?

3) Exercite-se

O urso e outros animais fazem o quê no período mais frio do ano? Nós, ao contrário, devemos nos exercitar.

Duvida? Então me diga o que acontece no seu corpo quando fica com frio? Ele treme. Justamente! Deixando bem claro: o exercício físico é tão importante no frio que, se você não o faz por vontade própria, seu próprio corpo se encarrega de fazê-lo. Há quem diga que a tremedeira pode até quintuplicar a produção de calor no corpo.

Mas lembre-se de sair agasalhado se for fazer exercícios em lugares frios e de manter-se novamente aquecido após a prática de esportes.