Um mês dormindo na casa de (quase) estranhos no México
Sem ter onde dormir em Viena
Tentando entrar na Hungria sem visto
Eu sabia que cidadãos brasileiros precisavam de visto para atravessar a fronteira, mas decidimos arriscar sem ele, mesmo. Assim, compramos uma passagem e, com mochilas nas costas, entramos em uma cabine com seis lugares e ali ficamos quietinhos.
Em pouco tempo, o trem parou e alguns policiais entraram. Pelo menos é o que deduzimos, pois não tínhamos coragem de ir até a porta e colocar a cabeça para fora.
A parada foi curta e, assim que a locomotiva voltou a funcionar, entramos um estado misto de alívio e euforia. Pena que durou pouco.
Controle
Os oficiais da imigração húngaros entraram na nossa cabine e, gentilmente, pediram para ver nossos passaportes. À Anne, bastou mostrar a carteira de identidade alemã e podia prosseguir a viagem tranquila.
Eu, no entanto, queria mostrar qualquer coisa – menos o passaporte brasileiro, o qual, na época, era verde. Comecei entregando uma carteira internacional de estudante feita meses antes em Portugal.
Não funcionou. A cara de bobo, o espírito eventureiro de 18 anos e a explicação de que seriam “só duas noites em Budapeste” também foram em vão.
Acabamos descendo na parada seguinte, onde ficamos esperando sentados no chão, escoltados por um soldado que não falava nada além de húngaro, até o próximo trem em direção a Viena passar.
Quando voltamos à capital da Áustria, o camping em que havíamos ficado nas noites anteriores já estava fechado. É assim que começa a próxima história...
Ganhando dinheiro desenhando
Foi mais ou menos com quatro anos que comecei a desenhar. Pouco mais tarde, enquanto as outras crianças (e as professoras) faziam os admiráveis homens e mulheres-palitos, meus seres humanos já tinham peito, pescoço, braços e até pés.
Muda o país, muda a comida
Pra quem sentir falta dos doces da terra-natal, eis um alívio: a cada ano que passa, leites condensados ocupam as prateleiras de mais supermercados. Pelo menos o brigadeiro está garantido! Agora cuidado: não comece a fazer um pavê sem ter certeza de que irá encontrar Guaraná no lugar em que você estiver.
Algumas coisas ainda estarão disponíveis em qualquer lugar, mas não necessariamente com o gostinho com que você está acostumado. Quando experimentar o chocolate, a pizza e a carne de outros países, você vai saber do que estou falando.
Mas calma porque também há coisas boas. O leite na Europa é uma delas. Barato e espesso, acaba sendo também responsável por uma enorme variedade de iogurtes e queijos pra todos os gostos. Todos mesmo.
Ciganos batedores de carteira na Itália
Ao que tudo indica, os ciganos provêm da Índia. No final do século 14, os primeiros grupos chegaram à Europa e continuaram andando para lá e para cá em todo o continente. Seu nomadismo e diversos costumes sempre causaram incômodo às comunidades locais, levando os nazistas a incluí-los na lista negra. Provavelmente, meio milhão deles foram mortos nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.
A perseguição não parou por aí, como demonstram recentes ataques a assentamentos de ciganos em determinadas regiões da Itália, França e Irlanda do Norte. Mas será que isso tem ocorrido só por causa dos costumes dessas famílias?
Itália
Proavelmente, entre 60 mil e 90 mil deles vivem atualmente na Itália - pelo menos 3 mil nômades na capital Roma.
Em 2005, assim que cheguei para viver na cidade, fui logo avisado: “Muito cuidado com os ciganos!” Segundo os locais, seria fácil reconhecê-los, principalmente as mulheres com saias longas, chinelos ou sandálias e cabelos compridos.
Uma das suas características culturais é andar em bandos. Muitas vezes, identificá-los é uma questão de auto-segurança, pois estar próximo desses grupos pode significar ficar sem sua carteira ou bolsa – principalmente dentro e ao redor dos ônibus e metrôs.
Tudo bem que 97% das crianças ciganas não frequentam a escola, que a maioria dos adultos é analfabeta, que a expectativa de vida deles é por volta dos 50 anos e que as condições precárias dos assentamentos e barracas se somem a outros inúmeros fatores que os empurram para as margens da sociedade. Mas o que você vai pensar quando for a Roma e for roubado por um deles?
Indignação
Ao longo dos meses em que vivi na capital italiana, me acostumei a escutar relatos de turistas inconformados por terem perdido dinheiro, passaporte e outras coisas durante os passeios na cidade. A indignação só aumentava porque tanto cidadãos quanto Estado estão cansados de saber do problema, mas até hoje não encontraram nenhuma solução. Houve, porém, uma tarde em que minha revolta chegou ao ápice.
Assim que subi no ônibus em direção ao trabalho, vi que duas mulheres e uma moça, todas ciganas, estavam em pé, com aquele olhar de caçadoras de níqueis. Fiquei também em pé, próximo da porta dos fundos, no meio do trio e de olho nas três.
Eu achava que, a qualquer momento, pegaria uma delas no flagra tentando abrir a bolsa ou mochila de alguém distraído, mas o que aconteceu foi ainda pior.
A mais velha do grupo tinha um bebê no colo. Apoiada no braço esquerdo da mulher e coberta com um pano, a criança foi ficando cada vez mais próxima de mim conforme a mulher dava pequenos passos na minha direção.
De repente, senti minha carteira se mexer, roçando minha coxa. Instintivamente, coloquei a mão no bolso e me surpreendi com outra mão tentando entrar ali. Na verdade, a cigana estava com o bebê amarrado! O braço dela, coberto pelo pano, estava livre, leve e solto para ela meter a mão na carteira ou dentro da bolsa de quem ela quisesse.
Indignado, fiz um escândalo como um típico italiano, fazendo com que o motorista parasse o ônibus e as três descessem. Depois de chegar à rua, a figuraça ainda cuspiu em minha direção. Não acertou! :-P
Algumas semanas depois, vivi uma situação semelhante em um ônibus lotado, esprimido entre desconhecidos e flagrando um homem também tentando enfiar a mão no bolso dianteiro da minha calça jeans. Novo escândalo, nova parada de ônibus, novo ladrão descendo inconformado.
Portanto, quando for a Roma, Barcelona, Paris e outras cidades europeias onde ouvir “Cuidado com os ciganos!”, fique realmente muito atento.
Escravidão na Itália
Dicas para suportar o frio do Hemisfério Norte
Provavelmente, depois de sobreviver a um inverno inteiro em lugares como Escandinávia, Europa Central, Rússia ou Canadá, você irá entender por que as pessoas desses lugares idolatram o sol e estão sempre falando sobre o tempo.
Se você planeja encarar o inverno de alguma dessas regiões, tenha sempre três coisas em mente:
1) Mantenha-se agasalhado
Nós humanos somos seres homeotérmicos e funcionamos à temperatura de 37°C. Quando a temperatura externa é muito mais baixa que isso, uma região do nosso cérebro chamada hipotálamo ordena a constrição dos vasos sanguíneos e outros mecanismos para nos manter aquecidos. Com isso, a pele fica pálida, fria e ressecada.
O hipotálamo encara a proteção do coração e outros órgãos vitais como prioridade, “desprezando” extremidades como dedos, orelhas e nariz. Dependendo do tempo de exposição ao frio, os vasos sanguíneos dessas “batem em retirada”, deixando-as sem combustível e sem calor. É por isso que pequenos movimentos como segurar uma caneta ou amarrar o cadarço podem se tornar missões impossíveis num dia de muito frio.
Apesar de o princípio ser o mesmo entre os humanos, algumas pessoas suportam temperaturas baixas fazendo menos esforço. Principalmente se elas tiverem sido expostas ao frio repetidamente.
Se você vem de um país tropical como o Brasil, esse não deve ser o seu caso. Portanto, não adianta querer dar uma de bonzão e mostrar que “não está sentindo frio”. Fazendo isso, você ficará mais vulnerável e provavelmente acabará sendo vítima fácil de resfriados e gripes.
2) Alimente-se bem
Durante a digestão, nosso corpo produz calor e libera substâncias que serão distribuídas entre as células, aumentando a capacidade dessas de produzirem novamente calor. Pense nos músculos e de onde vem todo o material que os forma.
Além disso, grande parte do que o organismo não precisar de imediato ficará acumulada entre os músculos e a pele, formando um isolante térmico. Pensando assim, ganhar uns quilinhos durante um inverno rigoroso não é tão mau assim, não é mesmo?
3) Exercite-se
O urso e outros animais fazem o quê no período mais frio do ano? Nós, ao contrário, devemos nos exercitar.
Duvida? Então me diga o que acontece no seu corpo quando fica com frio? Ele treme. Justamente! Deixando bem claro: o exercício físico é tão importante no frio que, se você não o faz por vontade própria, seu próprio corpo se encarrega de fazê-lo. Há quem diga que a tremedeira pode até quintuplicar a produção de calor no corpo.
Mas lembre-se de sair agasalhado se for fazer exercícios em lugares frios e de manter-se novamente aquecido após a prática de esportes.
Êxtase em alto-mar
Depois de alguns meses descobrindo, como intercambista, inúmeros detalhes das diferenças materiais e culturais entre o Brasil e a Alemanha, entrei em um trem em Frankfurt com destino a Oslo, capital da Noruega.
Dando uma olhada no mapa europeu, você vai ver que, nessa viagem, eu teria que passar pela Dinamarca e Suécia antes de chegar ao destino final. Além do mais, você vai notar que, em alguns trechos, só existe a água do mar. Então como seria possível completar todo esse roteiro dentro de um trem?
Também me perguntei isso. Na época, eu nem sabia o que era internet, então era bem mais difícil conseguir informações sobre viagens, a vida em outros lugares e até sobre a necessidade de vistos e outras burocracias que, nessas horas, são extremamente relevantes.
Fui meio sem saber o que estava por vir. Aos 16 anos, a vida era uma aventura ainda maior do que é hoje. Viajar de trem já era interessante porque sempre acaba-se conhecendo gente de lugares variados e com histórias curiosas pra contar. E, pra um brasileiro, cruzar em poucas horas uma fronteira e dizer “Agora estou em outro país” era um luxo.
Depois de uma curta estadia na Dinamarca, porém, surgiu algo ainda mais interessante. O trem parou e todos os passageiros tivemos que descer. Ao sair pela porta, o susto: não estávamos em uma estação, e sim dentro de um navio.
Era pra levar a bagagem? Teria controle da polícia? Trocaríamos de trem? Perdidaço, simplesmente segui a multidão.
Era um navio turístico normal, muito mais sofisticado que uma das tantas balsas com que estamos acostumados no Brasil. A maioria das pessoas se acomodou nos assentos do bar, restaurante e em outras salas de espera. Descobri então que, nos cerca de 50 minutos que passaríamos ali dentro, estaríamos deixando a Dinamarca e entrando na Suécia.
Me distanciei do grupo e, curioso, fui subindo, subindo, até chegar a um amontoado de máquinas no convés. Com certeza, aquele não era um lugar feito especialmente pra turistas. Além disso, era noite, fazia frio e o frio não era, digamos, dos mais fracos. Mesmo assim, foi ali que passei um dos momentos de maior êxtase da minha vida.
Hoje, pode parecer bobagem, mas, naquela noite, abrindo os braços e sentindo aquele frio desgraçado, eu olhava de um lado a última cidade dinamarquesa desaparecendo e, no outro, contemplava as luzes da primeira cidade de mais um país desconhecido, achando tudo o máximo. Puxa, com 16 anos, cruzar, sozinho, 4 países em cerca de 24 horas é mesmo pra não se esquecer nunca, você não acha?
Respeitando as diferenças
Um sujeito estava colocando flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês colocando um prato de arroz na lápide ao lado.
Ele se vira para o chinês e pergunta:
- Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz?
E o chinês responde:
- Sim, quando o seu vier cheirar as flores.
Moral da história:
Respeitar as opções do outro, em qualquer aspecto, é uma das maiores virtudes que um ser humano pode ter! As pessoas são diferentes, agem diferente e pensam diferente. Portanto, nunca julgue. Apenas tente compreender.
Sete hits da balada alemã
O que você precisa saber antes do seu primeiro voo
Para tudo existe a primeira vez, inclusive pegar o avião numa viagem ao exterior. Se tivesse lido um manual antes de ir ao aeroporto pela primeira vez, eu teria feito algumas coisas de modo diferente. Talvez estas 8 dicas ajudem você a se preparar para a sua primeira (ou próxima) viagem:
1 – Faça o check-in online
Várias companhias aéreas oferecem este serviço cerca de 24 horas antes da viagem. Fornecendo seus dados à empresa, você tem seu voo confirmado, escolhe sua poltrona e pode imprimir seu cartão de embarque em casa.
2 – Conheça os trajetos até os aeroportos
Gastar alguns minutinhos na internet pesquisando como ir do aeroporto ao centro ou ao hotel e vice-versa pode significar a economia de um bom dinheiro e tempo durante esses trajetos.
3 - Tenha os papéis em mãos
Faça uma lista antes de sair de casa: Passaporte, carteira de estudante, cartões de crédito, passagens, confirmação de voos, reservas de hoteis e contatos no país de destino impressos são imprescindíveis.
4 - Diminua a bagagem
Sempre dá para tirar um pouco mais de dentro da mala. Nada de comprar coisas novas para levar para a viagem! Deixe para fazer isso quando chegar no seu destino. O ideal é você não levar mais do que pode carregar sozinho. E cuidado com
5 – Seja prático com a bagagem de mão
Procure levar apenas o absolutamente necessário e o que possa quebrar dentro de uma única bagagem de mão. Quanto mais sacolas ou bolsas você levar, maior é a chance de chamar a atenção dos controladores de bagagem do aeroporto.
6 - Remédios e líquidos
Evite levar remédios na bagagem de mão. Líquidos com mais de 100ml, nem pensar! Água não irá faltar nos aeroportos ou aviões.
7 – Tenha calma ao entrar e sair do avião
Na hora de embarcar, sua poltrona já estará esperando só por você. Quando o avião pousar, ainda levam alguns minutos até que as portas se abram e todos consigam sair. Portanto, não se apavore soltando o cinto e tentando pegar a bagagem de mão desesperadamente para congestionar o corredor esperando em pé. Também não adianta querer chegar fora do aeroporto sem suas malas.
8 – Respeite os comissários de bordo
Eles trabalham para a companhia aérea; não para você. Com gentileza e um sorriso sincero, é bem provável que você consiga ser bem tratado e até agraciado com regalias como um salgadinho ou um almoço extra. Peça com jeitinho e agradeça...
9 – Seja discreto e seguro no controle no aeroporto
Tanto na partida quanto na chegada, aja com naturalidade durante o controle de bagagens e passaportes. “Quem não deve, não teme.” Portanto, tenha todos os itens do número 2 em mãos, olhe nos olhos dos controladores e responda apenas às perguntas que lhe fizerem – por mais irritantes que sejam. Antes de querer dar uma de malandro, lembre-se de que dezenas ou centenas de espertalhões passam por ali todos os dias.
Roubado em Cochabamba
Cada um com uma mochila nas costas e ambos perdidaços, saímos procurando, de porta em porta, um hotelzinho barato pra passarmos as próximas 3 noites na cidade.
Muito caro, lotado, feio demais... cada vez que entrávamos em um hotel, encontrávamos uma nova razão pra voltarmos à rua em busca de algo melhor.
Como as ruas estavam praticamente desertas, notamos claramente que alguém nos seguia pela calçada. Olhamos desconfiados quando o senhor nos alcançou e questionou sobre nossa nacionalidade e o que fazíamos ali àquela hora do dia, mas me acalmei assim que ele mostrou um crachá se apresentando como oficial da polícia.
“Vocês ainda não se registraram no escritório de imigração da cidade?”, nos perguntou o tal policial. Respondemos, surpresos, que não. Cochabamba andava tendo sérios problemas com o tráfico de drogas, especialmente por causa de jovens brasileiros disfarçados de turistas. Pelo menos foi essa a história que o cara nos contou. Nós, apesar de confusos, a engolimos.
Em seguida, o sujeito pegou o celular e ligou pra alguém. Ao desligar, nos disse: “Uma viatura está vindo nos levar até o escritório pra vocês se registrarem agora”. Poucos segundos depois, ele sinalizou pra um taxista. O motorista parou, conversou com o tal policial e este então nos falou: “Vamos, entrem porque a viatura deve demorar.” Entramos.
Claro que sentíamos que alguma coisa não estava em ordem, mas o que podíamos fazer? Depois do Guilherme e do oficial, me sentei no banco de trás do taxi, fechei a porta e o motorista arrancou.
Revista
O oficial era bem simpático e, aos poucos, fui me tranquilizando. Amigavelmente, ele fez uma série de perguntas, como quanto tempo queríamos ficar na cidade, aonde iríamos depois, quanto dinheiro trazíamos e onde o guardávamos.
Como quem não quer nada, passou a revistar a bolsa do meu amigo, supostamente só pra verificar se não trazíamos mesmo entorpecentes. Por fim, pediu pra ver nossos documentos e, quando abri minha bolsinha com o passaporte e 6 notas de U$50, ele contou o dinheiro na minha frente e devolveu tudo direitinho.
Convencido da nossa boa índole, o senhor nos disse que nos pouparia do transtorno de ir até o escritório fazer o tal registro e pediu ao taxista que nos levasse de volta à região onde tinha nos pegado.
Alívio?
Paramos em frente a um hotel que o policial recomendou e, alegres, saímos do carro. Antes de partir, ele ainda nos desejou uma boa estadia e alertou que tomássemos cuidado com nossas coisas porque a cidade estava infestada de ladrões.
Entramos no hotel, fizemos o check-in e nos sentamos pra aguardar até que nosso quarto estivesse limpo. Foi nesse ínterim que o Guilherme, revirando sua mochila, começou a resmungar: “Cadê minha câmera? Minha câmera sumiu!” Cada vez mais impaciente, ele seguiu procurando, até tirar sua própria conclusão: “Foi aquele policial. Ele roubou minha câmera!”
“Que absurdo”, eu disse, já bravo com o irresponsável do meu companheiro de viagem. O dono do hotel se intrometeu e lhe contamos o que havia acontecido minutos antes. Depois de um suspiro, ele tirou os óculos, fez aquela cara de “já vi este filme antes” e nos disse: “Compañeros, lo siento, pero aquí no hay policía en la calle.”
“Caindo a ficha”
Ou seja, aquele homem não era policial coisa nenhuma, seu crachá era falso, a história das drogas e do registro era lorota, o telefonema tinha sido pro comparsa taxista, a câmera do Guilherme tinha sido roubada durante a revista na sua mochila e... “Opa, meu passaporte e meu dinheiro!”
Abri a bolsinha com o coração acelerado. O passaporte estava lá, mas os dólares não eram mais os mesmos. Apesar de eu não ter tirado os olhos deles por nenhum segundo enquanto o senhor os contava dentro do taxi, ele fez U$250 desaparecerem. “Pelo menos ele não levou tudo”, pensei alto, vendo a única nota de U$50 que tinha restado.
Andando de trem sem pagar
Seis dicas para economizar tempo em um breve tour
Em algum momento das suas andanças, você terá apenas algumas horas ou poucos dias para passar em um lugar cheio de atrações.
Apesar de não conseguir ver tudo que a cidade tem a oferecer, você pode pelo menos se preparar para aproveitar mais o tempo durante o passeio. Veja como isso é possível:
1 - Contatos
Procure estabelecer contatos com pessoas nativas antes de chegar à cidade. Ainda que vocês não se encontrem de fato, elas podem pelo menos dar dicas que você não encontrará jamais em guias turísticos. Isso sem contar nas portas que podem abrir, como apresentando um amigo que trabalha num restaurante tal, um DJ que vai tocar numa discoteca, uma prima que tem entradas para museus etc.
2 – Mapa
Se não tiver um guia turístico, serve um mapa impresso no computador ou de um centro turístico mesmo. Assim que chegar na cidade, tente conseguir um no próprio aeroporto ou na estação de trem.
Estude o mapa, marque os pontos de interesse prioritários e leia exaustivamente os nomes das ruas, ainda que sejam impronunciáveis. Quando estiver andando, será de grande valia reconhecer nomes familiares nas placas sem precisar ficar olhando de novo no mapa a cada 50 metros.
3 – Transporte
Compre um bilhete para o dia todo (ou um período maior, dependendo da duração da sua estadia). Avaliando quanto lhe custará voltar à cidade, não é aconselhável desperdiçar tempo economizando com transporte público.
Uma alternativa ainda melhor é alugar uma bicicleta ou usar seus patins. Neste caso, lembre-se de levar também um par de sapatos na mochila para entrar em lugares onde patins são proibidos.
4 – Previsão do tempo
Independentemente da estação do ano, o dia pode ser de sol ou de chuva. Por isso, confira na véspera a previsão do tempo. É fácil: basta “googlar” weather + nome da cidade. Em caso de chances de chuvas, carregar uma sombrinha é essencial para não ficar barrado embaixo de um toldo no meio do seu tour esperando a chuva passar.
5 – Peso
Leve apenas o necessário e distribua o peso com o seu ou a sua acompanhante. Cada um com uma mochila leve é melhor do que um carregando o peso para todos.
Outra dica: muitos museus têm cofres ou armários gratuitos para os visitantes. Aproveite para se livrar da mochila pelo menos durante a caminhada dentro desses lugares.
6 - Alimentação
Leve sempre uma garrafa pequena de água e alguns “lanchinhos”. Nada de chocolate ou algo que possa derreter. Sanduíches e barras de cereais são boas sugestões.
Evite almoços pesados. O melhor é tomar um café da manhã reforçado antes de começar o passeio, beliscar uma ou outra coisinha durante o dia e, à noite, jantar bem antes de relaxar.
Hospede ou durma na casa de alguém de graça
Quer viajar, mas não pode arcar com as despesas de hospedagem? Se você não é do tipo que precisa de luxo e privacidade nas noites que passa fora do seu confortável quarto, que tal ficar na casa de alguém sem pagar nada?
Graças a sites como Hospitality Club e Couch Surfing, é possível encontrar pessoas que, nos lugares mais remotos da Terra, estão dispostas a ceder o sofá da sala, um colchão no chão ou até mesmo um quarto de visita pra estranhos como você.
Dizer estranho é um pouco de exagero. Afinal de contas, esses sites funcionam mais ou menos como o Orkut e Facebook. São, portanto, também comunidades virtuais das quais qualquer pessoa pode fazer parte sem gastar nada.
Depois de se registrar no pioneiro Hospitality Club ou no mais conhecido Couch Surfing, o esquema é o mesmo que você provavelmente já conhece: preencher informações do seu perfil, adicionar fotos opcionais, contar um pouco sobre sua personalidade e seus interesses num texto curto, especificar quais idiomas você domina e por aí vai.
Diferenças
Esses sites têm algumas diferenças que vão desde o layout até a possibilidade de acumular “amigos”, mas eles apresentam um ponto importante em comum: todos os membros devem informar se também estão dispostos a hospedar outros na sua casa. Ninguém é obrigado a receber ninguém em seu lar. Apesar disso, é claro que não faz muito sentido se registrar nesses sites só pra se aproveitar da boa-vontade dos outros. Afinal de contas, é por essa troca de lugares no sofá que ambas as comunidades funcionam.
O fato de uma pessoa informar em seu perfil que pode hospedar alguém não significa, entretanto, que você pode automaticamente bater na porta dela com a mochila nas costas.
Impressão, torcida e sorte
Depois que você lhe escrever explicando quando deseja ficar na casa dela, é preciso torcer pra que ela vá com sua cara, confie em você, tenha disponibilidade naquele período... ou simplesmente que esteja com saco de hospedar alguém naqueles dias. Por isso não é de se espantar que, muitas vezes, as pessoas nem respondam ao seu primeiro recado.
Também não faz sentido entrar num site desses pra procurar namorado(-a). Ainda que existam várias histórias de casais que se conheceram por meio deles, o bacana é conhecer pessoas com mente aberta, interesses comuns e geralmente poliglotas de todo o mundo.
Parece bobagem, mas hospedar outras pessoas e ter a sensação de “pagar” por tudo que já fizeram quando você mesmo precisou de um cantinho também é muito bom.
Pra quê ficar lendo mais se você pode acessar o Hospitality Club ou o Couch Surfing e tirar todas suas dúvidas? Boa sorte!
Os mortos de Varanasi
Algo que ainda não havíamos visto, porém, nos aguardava naquela manhã, quando acordamos bem cedo e, ansiosos, deixamos o hotel no centro de Varanasi e fomos caminhando em direção ao Rio Ganges.
Não era a água que buscávamos, e sim a fumaça que parecia ganhar mais consistência conforme os raios do sol se tornavam mais fortes.
Enquanto seguíamos beirando o Ganges, desviávamos dos estrumes de vacas e búfalos e víamos como os indianos se banhavam, escovavam os dentes e lavavam suas roupas na mesma água escura do rio.
E isso não era tudo. A fumaça ia ficando mais forte e, aos poucos, podíamos sentir também seu cheiro. Carne. Sim, tinha cheiro de carne. Não de gado ou de porco, mas de gente.
Não era permitido fotografar, mas qualquer um podia ver o que eles faziam ali. E eu, curioso, me aproximei o máximo que pude e passei a assistir a tudo que acontecia.
Cadáver
Cantarolando, um grupo de pessoas se aproximou carregando um cadáver e o colocou sobre um punhado de madeiras. Era um homem com o corpo enrolado em um pano laranja e amarrado em uma maca de bambu. O rosto e os pés estavam descobertos.
Alguém acendeu a fogueira. Eu estava a uns 3 ou 4 metros de distância, com os olhos atentos, provavelmente refletindo as luzes do fogo. Em segundos, o cadáver ficou sem cabelos e sem o tecido que o envolvia. Os olhos perderam a cor branca e a forma redonda, a pele começou a derreter e, em meio às chamas e aos estalos típicos de uma fogueira, eu tinha relances dos músculos, órgãos e ossos sendo fritos e assados.
Pouco tempo depois, só havia restado cinzas e carvão misturado com ossos. Olhando ao meu redor, tive a impressão de ser o único que se espantava com aquelas cenas todas. Afinal de contas, aquela gente estava acostumada ao ritual que, todas as manhãs, se repete dezenas ou centenas de vezes como parte da crença hindu de várias vidas.
O que aconteceu em seguida foi muito rápido: as cinzas foram jogadas no rio, novos pedaços de madeira formaram uma outra fogueira e, em poucos minutos, lá estava mais um cadáver prestes a ser cremado ao ar livre.
Pra indianos pobres e miseráveis, a madeira pode custar uma fortuna. Por isso, muitos deles enrolam os parentes mortos em pedras e simplesmente os jogam no Ganges. É por isso que ver corpos ou partes deles boiando no rio ou encalhados nas margens é algo comum em Varanasi.
O que é fundamental pra aprender um idioma
Nem todo mundo que começa a aprender outra língua, entretanto, faz isso por causa de uma viajem ao exterior. Há também quem busque esse conhecimento por causa do trabalho, pra entender letras de músicas ou textos científicos, por imposição dos pais, por mera curiosidade ou até mesmo pra poder paquerar alguém de outro canto do mundo.
As razões são, portanto, variadas, da mesma forma que as opções que temos hoje em dia pra conseguirmos esse conhecimento. Cursos no colégio e em escolas especializadas, aulas particulares, materiais audio-visuais pra auto-didatas, treinos com músicas e filmes, leitura e escrita com dicionários em mãos... Você pode escolher uma ou até todas essas opções.
O segredo é...
Qual é o segredo, então, pra tornar seu aprendizado realmente eficaz? Motivação. É claro que o método e a capacitação de quem lhe ensina também são relevantes, mas é mais importante pensarmos como o ditado que diz: “Não existem bons ventos para quem não sabe aonde quer chegar.”
Descubra o que você quer almejar estudando uma língua estrangeira. Pense no que pode ganhar com isso: nas vantagens em relação a outros concorrentes na sua área de estudos e trabalho, na facilidade pra se locomover virtualmente e fisicamente pelo mundo, no bem que pensar em outro idioma pode fazer ao seu cérebro e nas portas que se abrirão no futuro imprevisto.
Por mais que tenha tempo e ótimos professores e materiais didáticos, sem acreditar numa boa razão e visualizar os benefícios que você poderá atingir se tornando um bilíngue, trilíngue ou poliglota, provavelmente você estará perdendo tempo e dinheiro.
Mas que fique bem claro: só a motivação não ensina nada a ninguém. Por isso, quando estiver ciente do que tem a ganhar dominando outro idioma, junte a motivação à concentração, detalhismo e persistência… e mãos à obra!
Presos no aeroporto em Frankfurt
Assim que desembarcamos no enorme aeroporto de Frankfurt, seguimos em direção à saída e nos posicionamos naquela santa fila em cujo final alguém poderá mudar o curso de toda a sua vida com um simples carimbo.
A maioria dos passageiros passa sossegada. Alguns sofrem mais um pouco, suam, tremem, tiram uma porrada de papelada da bolsa e mostram até o dinheiro que estão levando pra convencer os oficiais da imigração a deixá-los passar. Outros, porém, por mais que se desesperem, se humilhem, chorem, esperneiem e contem que são irmãos do presidente ou filhos do Papai Noel, não conseguem seguir adiante.
Viajar com o passaporte brasileiro nunca foi, digamos, relaxante. Até esse dia, no entanto, eu nunca tinha sido barrado por um daqueles oficiais. Nessa tarde, porém, o que ouvi ao chegar na Alemanha não foi um „Willkommen“, mas sim um “Kommen Sie bitte mit”, que quer dizer: Me acompanhe, por favor.
Acompanhei um sujeito e minha irmã, que estava na fila ao lado, acompanhou o outro. Como é típico de histórias como estas, neste relato também tem a tal da ‘salinha’. É pra lá que fomos levados.
Presos
Nos sentamos e ficamos esperando em frente à porta. Não lembro se ela estava aberta ou fechada, mas me recordo de que não éramos os únicos à espera. Havia também uns 5 colombianos na mesma condição, com os destinos nas mãos de alguns alemães – o que, obviamente, não era muito animador.
Estávamos presos. Não estávamos algemados nem trancados em uma cela, mas nossos passaportes tinham sido sequestrados e nenhum de nós era louco ou desesperado ao ponto de tentar escapar numa hora daquelas.
O tempo passava e nada de ninguém vir falar com a gente. Estavam esperando um tradutor de português-alemão ser encontrado. Por sorte, resolveram descobrir que, depois de ter sido intercambista por um ano no país deles, eu também falava alemão. Assim pudemos começar o interrogatório sem mais demoras.
Se você nunca passou por uma situação assim, meus parabéns. Muitas vezes, a conversa na salinha termina em planos de volta pra casa no primeiro ou segundo voo, mas nós dois tivemos mais sorte dessa vez.
Explicações
Contamos que éramos estudantes universitários e que, depois dos intercâmbios na Dinamarca e na Alemanha, tínhamos decidido trancar o curso por um ano e ir descobrir mais do mundo começando na Europa.
Tivemos que contar tudo o que havíamos feito desde nossa chegada em Portugal quase 3 meses antes e convencê-los de que nosso plano era mesmo seguir viajando entre um país e outro ao invés de nos fixarmos em algum deles de forma ilegal.
Acabamos mostrando tudo que tínhamos em mãos: nossas carteirinhas de estudantes , as passagens de ida pra Índia dali a 4 meses e a de volta ao Brasil dali a 8 meses, carta da minha antiga família hospedeira e até nossos diários, nos quais relatávamos nossas andanças e, por sorte, colávamos vários dos bilhetes das passagens.
Ainda por cima, dei o endereço da minha namorada alemã e contei que tinha uma conta num banco que eu só podia movimentar pessoalmente na época - sem cartão ou internet, como hoje.
Livres
Depois de umas duas horas, os oficiais tiveram a mesma reação que você provavelmente está tendo agora: “Ai, tá bom, chega!”, eles devem ter pensado. Foram até gentis e bem didádicos com as explicações sobre o Acordo do Schengen, explicando-nos que podíamos passar só 90 dias em todos os países que faziam parte daquele acordo. Contando a dedo, nossos passaportes indicavam que já tínhamos usado 68 desses dias. Por isso estávamos ali.
Escapamos, mas seguimos à risca as instruções pra conseguirmos uma prorrogação do nosso visto. E deu certo. Será que os colombianos que ficaram lá também tiveram essa sorte?