Roubado em Cochabamba

Eram menos de 7h da manhã quando eu e meu amigo Guilherme chegamos na estação rodoviária central de Cochabamba, na Bolívia.

Cada um com uma mochila nas costas e ambos perdidaços, saímos procurando, de porta em porta, um hotelzinho barato pra passarmos as próximas 3 noites na cidade.

Muito caro, lotado, feio demais... cada vez que entrávamos em um hotel, encontrávamos uma nova razão pra voltarmos à rua em busca de algo melhor.

Como as ruas estavam praticamente desertas, notamos claramente que alguém nos seguia pela calçada. Olhamos desconfiados quando o senhor nos alcançou e questionou sobre nossa nacionalidade e o que fazíamos ali àquela hora do dia, mas me acalmei assim que ele mostrou um crachá se apresentando como oficial da polícia.

“Vocês ainda não se registraram no escritório de imigração da cidade?”, nos perguntou o tal policial. Respondemos, surpresos, que não. Cochabamba andava tendo sérios problemas com o tráfico de drogas, especialmente por causa de jovens brasileiros disfarçados de turistas. Pelo menos foi essa a história que o cara nos contou. Nós, apesar de confusos, a engolimos.

Em seguida, o sujeito pegou o celular e ligou pra alguém. Ao desligar, nos disse: “Uma viatura está vindo nos levar até o escritório pra vocês se registrarem agora”. Poucos segundos depois, ele sinalizou pra um taxista. O motorista parou, conversou com o tal policial e este então nos falou: “Vamos, entrem porque a viatura deve demorar.” Entramos.

Claro que sentíamos que alguma coisa não estava em ordem, mas o que podíamos fazer? Depois do Guilherme e do oficial, me sentei no banco de trás do taxi, fechei a porta e o motorista arrancou.

Revista

O oficial era bem simpático e, aos poucos, fui me tranquilizando. Amigavelmente, ele fez uma série de perguntas, como quanto tempo queríamos ficar na cidade, aonde iríamos depois, quanto dinheiro trazíamos e onde o guardávamos.

Como quem não quer nada, passou a revistar a bolsa do meu amigo, supostamente só pra verificar se não trazíamos mesmo entorpecentes. Por fim, pediu pra ver nossos documentos e, quando abri minha bolsinha com o passaporte e 6 notas de U$50, ele contou o dinheiro na minha frente e devolveu tudo direitinho.

Convencido da nossa boa índole, o senhor nos disse que nos pouparia do transtorno de ir até o escritório fazer o tal registro e pediu ao taxista que nos levasse de volta à região onde tinha nos pegado.

Alívio?

Paramos em frente a um hotel que o policial recomendou e, alegres, saímos do carro. Antes de partir, ele ainda nos desejou uma boa estadia e alertou que tomássemos cuidado com nossas coisas porque a cidade estava infestada de ladrões.

Entramos no hotel, fizemos o check-in e nos sentamos pra aguardar até que nosso quarto estivesse limpo. Foi nesse ínterim que o Guilherme, revirando sua mochila, começou a resmungar: “Cadê minha câmera? Minha câmera sumiu!” Cada vez mais impaciente, ele seguiu procurando, até tirar sua própria conclusão: “Foi aquele policial. Ele roubou minha câmera!”

“Que absurdo”, eu disse, já bravo com o irresponsável do meu companheiro de viagem. O dono do hotel se intrometeu e lhe contamos o que havia acontecido minutos antes. Depois de um suspiro, ele tirou os óculos, fez aquela cara de “já vi este filme antes” e nos disse: “Compañeros, lo siento, pero aquí no hay policía en la calle.”

“Caindo a ficha”

Ou seja, aquele homem não era policial coisa nenhuma, seu crachá era falso, a história das drogas e do registro era lorota, o telefonema tinha sido pro comparsa taxista, a câmera do Guilherme tinha sido roubada durante a revista na sua mochila e... “Opa, meu passaporte e meu dinheiro!”

Abri a bolsinha com o coração acelerado. O passaporte estava lá, mas os dólares não eram mais os mesmos. Apesar de eu não ter tirado os olhos deles por nenhum segundo enquanto o senhor os contava dentro do taxi, ele fez U$250 desaparecerem. “Pelo menos ele não levou tudo”, pensei alto, vendo a única nota de U$50 que tinha restado.

3 comentários:

Unknown disse...

Nossa Elton!
E o que vc fez depois? Como fez para pagar as despesas com só com 50 dólares?
bj!

Elton Hubner disse...

Primeiro, o Guilherme dividiu uma parte do dinheiro dele comigo. Além disso, esperei alguns dias até que o dinheiro depositado pela mamãe no Brasil chegasse na conta do Xavier, um senhor que nos hospedou em La Paz...

Ingrid T.M. disse...

Oieeee
irei passar sempre por aqui!!!
Quero saber mais desse mundo doido...
bjos