Andando de trem sem pagar


Viajar na Europa sem pagar é fácil; difícil é lidar com a própria consciência e com o medo de ser pego.

Cada cidade e meio de transporte tem características específicas que facilitam ou dificultam esse pequeno delito. Quanto menor for a preocupação com a ética, mais fácil fica, pois o risco de ser pego é, matematicamente, bem pequeno. Tudo bem, o risco é pequeno, mas o flagrante é inesquecível.

Aventura arriscada

Um exemplo disso aconteceu uma vez em que percorria um trajeto de 30 km com minha amiga hondurenha e também intercambista Karen. Não só gostávamos de economizar, mas também o fazíamos por necessidade. Por isso entramos no trem sem pagar os cerca de oito euros que, na época, custava a passagem.

Apesar de já estarmos acostumados com a tensão, aquele dia a adrenalina nos mostrou que havíamos abusado da sorte ao limite.

Antes do que esperávamos, o controlador chegou ao nosso vagão. Rapidinho, entramos juntos no banheiro e ficamos quietos. Claro que, logo em seguida, alguém bateu na porta, mas não queríamos abri-la de jeito nenhum.

“Ele vai embora”, torcíamos. Em vão. Minutos depois, o sujeito continuava batendo na porta. Claro que não era a primeira vez que lidava com espertalhões como nós.

Procurando uma saída

Bolamos uma estratégia. Resistiríamos mais alguns minutos, até que o trem parasse na nossa cidade. Assim que as portas da locomotiva se abrissem, o controlador de bilhetes precisaria sair dela por cerca de um minuto. Eu o veria pela janela do banheiro e, rapidamente, correríamos para a porta mais distante, já que estávamos entre duas portas de saída do trem.

Seguimos o plano à risca. Depois de frearmos, vi o vulto do controlador a poucos metros de mim, Karen e eu abrimos o banheiro e corremos para a outra porta, por onde saltamos com nossas mochilas em direção à liberdade.

Purgatório

Só não contávamos com um outro controlador que estava, já na plataforma, nos esperando. Me senti como se estivesse no purgatório. “É agora que vamos ao céu ou ao inferno”, pensei.
Primeiro, veio a bronca. Karen e eu fizemos de conta que não entendíamos nada – coisa manjadíssima - , mas não convencemos o sujeito. Ele insistia que pagássamos uma multa. “Ou vocês pagam ou chamo a polícia agora”, nos ameaçou.

Pronto. Era o que faltava para Karen cair no choro. Se lambuzando em lágrimas, a baixinha hondurenha implorava, numa mistura de espanhol e alemão, para que o homem perdoasse a estupidez de dois jovens intercambistas que nunca mais fariam aquilo.
ão era encenação.

Nem o coração gelado do alemão pode resistir aos prantos da menina. Até eu fiquei preocupado com minha melhor amiga da época vendo que o desespero dela n

Antes que ela desmaiasse ali na plataforma, o controlador nos liberou, apitou para o motorista, entrou no trem e partiu.

Pelo que me lembro, a Karen nunca mais andou de trem, metrô ou ônibus sem pagar. A Karen…

Um comentário:

hugo. disse...

olá, Elton, tudo bem? meu nome é Hugo...sou professor de alemão na Looking 4 aqui em maringá...e to vendo um intercambio pra berlim pro começo do ano...será que a gente poderia conversar? me adiciona no msn...hugodmolina_4@hotmail.com...
abraços