Ganhando dinheiro desenhando



Foi mais ou menos com quatro anos que comecei a desenhar. Pouco mais tarde, enquanto as outras crianças (e as professoras) faziam os admiráveis homens e mulheres-palitos, meus seres humanos já tinham peito, pescoço, braços e até pés.

As primeiras noções de sombra vieram aos 12 ou 13 anos. Depois, as técnicas de perspectiva e profundidade. Com 16 anos, eu já copiava qualquer ilustração, adorava desenhar o Wolverine e arriscava fazer retratos de pessoas famosas e bem chegadas – ótimas cobaias.

Desenhar era um vício que eu alimentava em casa, na escola e, eventualmente, também nas viagens mundo afora.

Numa dessas viagens, algo mudou. Foi em Paris, quando babei vendo alguns artistas fazerem caricaturas dos turistas em poucos minutos. Como eu ainda recebia mesada na época, imaginei que aqueles desenhistas ganhavam uma boa grana com aquilo e acabei sonhando: “Puxa, imagine se um dia eu puder desenhar tão bem e tão rápido assim! Será que seria capaz de ganhar dinheiro em qualquer lugar?”

Primeiras moedas

Um ano e meio depois, parei numa rodoviária em Corrientes, na Argentina, enquanto ia de Assunção a Córdoba. O próximo ônibus só sairia sete horas depois. Sem mais o que fazer, tirei uns lápis da bolsa e comecei a fazer esboços dos rostos de alguns passageiros que também estavam sentados por perto.

Uma criança curiosa se aproximou e atraiu a atenção de um zelador, o qual parou, riu e chamou um colega. Quando me dei conta, eu estava rodeado de gente e alguém perguntou: “Cuánto cobrás para dibujarme a mí?” Surpreso, respondi: “Un peso!”

Não era muito, mas foi a primeira vez que eu recebi algo por desenhar. Quando embarquei no ônibus, tinha ganhado sete pesos, que equivaliam a 14 reais.

Não parei mais e o valor foi aumentando. Tanto que, menos de dois anos mais tarde, com cada caricatura que eu fazia, conseguia pagar duas noites do hotel em Pushkar, uma pequena cidade na Índia.

Desesperado

Uma vez, em Cancún, faltando ainda quatro dias para voltar ao Brasil, perdi minha carteira com o cartão de crédito e uns dólares que eu havia acabado de sacar no banco. Sem cartão de crédito e sem dinheiro – o que podia fazer?

O jeito foi pegar minha prancheta, folhas e lápis de cor, colocar a mochila nas costas e sair pela praia perguntando quem queria uma caricatura. Depois de hesitarem, quatro italianos toparam entrar na brincadeira, apesar da indisposição para pagar muita coisa pelo trabalho.

No final, felizmente se divertiram com os cabelos, orelhas, bocas e narizes exagerados e me ajudaram a conseguir outras vítimas outros clientes. No fim das contas, aquele dia de trabalho foram suficientes para eu passar os três dias seguintes aproveitando a beleza do Caribe.

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