A melhor história de caronas


Esta história começou numa manhã quente de junho de 2000, quando minha irmã e eu fomos até a saída de Milão, na Itália, com mochilas nas costas e bandeira do Brasil na mão, desafiando nosso destino. Depois de dois dias procurando em vão um trabalho em restaurantes e hotéis da cidade italiana, tínhamos decidido, naquele dia, tentar a sorte na Suíça.

Com 20 e 19 anos, respectivamente, não tínhamos muitos planos. Na verdade, nem sabíamos direito como a Suíça era e nunca tínhamos ouvido antes o nome da região pra onde decidimos ir aquele dia – do qual, aliás, nem nos lembramos mais hoje.

Tínhamos em mãos passagens pra Índia e alguns euros pra sobrevivermos lá, mas ainda faltavam três meses pra viagem. Precísavamos dar um jeito de encontrar um lugar pra morar e comer enquanto o dia do voo não chegava.

Nossa intenção era conhecer algum fazendeiro que nos oferecesse, por três meses, cama, comida e alguns francos suíços em troca do duro trabalho de alguma plantação de maçãs, uvas ou o que fosse. Detalhe: nossos vistos eram de turismo, o que dobrava a chance de não dar certo.

Bendito furgão azul

Depois de duas ou três caronas por curtos trajetos, nos encontrávamos já à tarde no norte da Itália, bem próximos da fronteira com a Suíça. Mental e verbalmente, deixávamos o otimismo combater o cansaço, a fome e a dúvida de que aquela loucura daria certo.

De repente, um furgão parou próximo à minha irmã e uma loira de cabelos curtos começou a falar com ela pela janela do banco de passageiros dianteiro. Dentro do automóvel estavam a Ketty, professora de dança, o marido Serge, artista plástico, e os filhos Aaaron (3), Shanna (6) e Mahran (11), além da cadela Rotweiller Lia.

Nos juntamos à família e seguimos viagem. Após algumas horas, o sol já estava indo embora e Ketty nos disse: “Já está ficando tarde. Vocês podem vir conosco e dormir na nossa casa. Amanhã ajudo vocês a procurar um trabalho na redondeza”. Claro que topamos.

Paraíso nos Alpes

Quando chegamos a Le Levron já era noite. Só na manhã seguinte, uma surpresa: olhamos pela sacada ao lado da cozinha e demos conta de que estávamos num pequeno vilarejo nos Alpes. Uma cena de filme.

Nesse dia, Serge partiu com as crianças em direção à França, onde passaria duas semanas na casa dos pais dele. Enquanto as malas eram feitas, Ketty telefonava pra conhecidos da região em busca de um trabalho para nós.

No sábado, ela propôs: “Tenho um curso de uma semana na Bélgica e preciso deixar a cadela com alguém. Se quiserem, vocês podem ficar aqui tomando conta dela e da casa. Talvez alguma das pessoas pra quem liguei volte a telefonar e vocês consigam algum trabalho.”

Deu certo. Quando Ketty voltou de viagem, já estávamos, de fato, trabalhando como garçons numa estação de esqui vizinha. Depois, conseguimos uns “bicos” como zeladores com umas vizinhas queridíssimas que falavam português.

Laços

No final das contas, acabamos passando três meses naquele pequeno paraíso. Minha irmã viveu o tempo todo com Ketty e ganhou uma grana cuidando das crianças dela. Eu passei a maior parte do tempo na casa do Nicolas, o vizinho que já tinha vivido no Brasil, e dei uma ajeitada no jardim da Ketty.

Conhecemos o vilarejo inteiro, fizemos algumas amizades e nos apegamos à família de tal forma que, assim que voltamos da Índia, retornamos ao vilarejo pra passarmos o Natal e Ano Novo na companhia da nossa amiga Ketty, do marido e dos nossos “irmãozinhos”.

2 comentários:

carolbeal disse...

Eu me lembro destas histórias que vocês costumavam me contar. O site é ótimo, Elton! Adorei, de verdade! É a coisa mais certa que tu pode fazer, porque com tantas experiências, seria um desperdício não compartilhar estes momentos... Além disso, são histórias riquissimas. Quem sabe um dia, elas não viram um livro... ou um filme? quero participar do projeto, hein! Beijo, xuxu.

Helen P. Kaiser Toledo disse...

Que história bacana Elton!!! Tudo deu mais que certo no final! E que bacana saber das suas andanças pelo mundo!! Vi você aqui em Maringá nas suas férias. Muito sucesso e tudo de bom pra você!