Presos no aeroporto em Frankfurt

Depois de duas semanas passeando pela Dinamarca e Inglaterra, minha irmã e eu voltamos à Alemanha pra continuarmos nossas aventuras de quase um ano como mochileiros na Europa.

Assim que desembarcamos no enorme aeroporto de Frankfurt, seguimos em direção à saída e nos posicionamos naquela santa fila em cujo final alguém poderá mudar o curso de toda a sua vida com um simples carimbo.

A maioria dos passageiros passa sossegada. Alguns sofrem mais um pouco, suam, tremem, tiram uma porrada de papelada da bolsa e mostram até o dinheiro que estão levando pra convencer os oficiais da imigração a deixá-los passar. Outros, porém, por mais que se desesperem, se humilhem, chorem, esperneiem e contem que são irmãos do presidente ou filhos do Papai Noel, não conseguem seguir adiante.

Viajar com o passaporte brasileiro nunca foi, digamos, relaxante. Até esse dia, no entanto, eu nunca tinha sido barrado por um daqueles oficiais. Nessa tarde, porém, o que ouvi ao chegar na Alemanha não foi um „Willkommen“, mas sim um “Kommen Sie bitte mit”, que quer dizer: Me acompanhe, por favor.

Acompanhei um sujeito e minha irmã, que estava na fila ao lado, acompanhou o outro. Como é típico de histórias como estas, neste relato também tem a tal da ‘salinha’. É pra lá que fomos levados.

Presos

Nos sentamos e ficamos esperando em frente à porta. Não lembro se ela estava aberta ou fechada, mas me recordo de que não éramos os únicos à espera. Havia também uns 5 colombianos na mesma condição, com os destinos nas mãos de alguns alemães – o que, obviamente, não era muito animador.

Estávamos presos. Não estávamos algemados nem trancados em uma cela, mas nossos passaportes tinham sido sequestrados e nenhum de nós era louco ou desesperado ao ponto de tentar escapar numa hora daquelas.

O tempo passava e nada de ninguém vir falar com a gente. Estavam esperando um tradutor de português-alemão ser encontrado. Por sorte, resolveram descobrir que, depois de ter sido intercambista por um ano no país deles, eu também falava alemão. Assim pudemos começar o interrogatório sem mais demoras.

Se você nunca passou por uma situação assim, meus parabéns. Muitas vezes, a conversa na salinha termina em planos de volta pra casa no primeiro ou segundo voo, mas nós dois tivemos mais sorte dessa vez.

Explicações

Contamos que éramos estudantes universitários e que, depois dos intercâmbios na Dinamarca e na Alemanha, tínhamos decidido trancar o curso por um ano e ir descobrir mais do mundo começando na Europa.

Tivemos que contar tudo o que havíamos feito desde nossa chegada em Portugal quase 3 meses antes e convencê-los de que nosso plano era mesmo seguir viajando entre um país e outro ao invés de nos fixarmos em algum deles de forma ilegal.

Acabamos mostrando tudo que tínhamos em mãos: nossas carteirinhas de estudantes , as passagens de ida pra Índia dali a 4 meses e a de volta ao Brasil dali a 8 meses, carta da minha antiga família hospedeira e até nossos diários, nos quais relatávamos nossas andanças e, por sorte, colávamos vários dos bilhetes das passagens.

Ainda por cima, dei o endereço da minha namorada alemã e contei que tinha uma conta num banco que eu só podia movimentar pessoalmente na época - sem cartão ou internet, como hoje.

Livres

Depois de umas duas horas, os oficiais tiveram a mesma reação que você provavelmente está tendo agora: “Ai, tá bom, chega!”, eles devem ter pensado. Foram até gentis e bem didádicos com as explicações sobre o Acordo do Schengen, explicando-nos que podíamos passar só 90 dias em todos os países que faziam parte daquele acordo. Contando a dedo, nossos passaportes indicavam que já tínhamos usado 68 desses dias. Por isso estávamos ali.

Escapamos, mas seguimos à risca as instruções pra conseguirmos uma prorrogação do nosso visto. E deu certo. Será que os colombianos que ficaram lá também tiveram essa sorte?


2 comentários:

Unknown disse...

Adorei essa história da salinha. que sufoco hein?!, mas ainda bem que deu tudo certo:D Ah! Eu acho que os colombianos não sairam de la! hehe

RC disse...

Um caso Atípico mas de muita sorte.O que salvou vocês reaalmente foi o seu alemão.
Agora convenhamos,Colombianos são muito mais mal vistos do que nós.Acho que não tiveram a mesma sorte!